Entrevista exclusiva com economista Fabio Louzada sobre aumento do IPCA

No dia 11 de Maio, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgou a taxa do IPCA de Abril, que fechou o mês com um aumento de 1,06%. Com isso, o IPCA alcançou maior alta desde 1996, somando 4,29% só este ano, e 12,13% acumulados nos últimos doze meses.


O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é uma taxa calculada pelo IBGE e funciona como medidor oficial da inflação. Ele é utilizado por órgãos como o CMN (Conselho Monetário Nacional) como parâmetro para ajustar as metas de inflação, e pelo Copom (Comitê de Política Monetária) para revisar a taxa Selic, que é a taxa básica de juros.

Seu aumento tem impacto direto no bolso do consumidor, pois influencia nos preços dos produtos e no setor de serviços, assim diminuindo o poder de compra da população. Este acréscimo geralmente ocorre em momentos em que a economia nacional se encontra em situações difíceis por conta de diversos fatores internos ou externos.

Mesmo com essas informações básicas que temos em nossas mãos sobre a inflação, restam muitas dúvidas sobre a mesma. O futuro da economia do país ainda é um ponto de interrogação para muitos brasileiros. 


Imagem ilustrativa de gráfico em alta (Reprodução/Instagram)



Para que tais dúvidas fossem sanadas, o Notícia Séria Brasil realizou uma entrevista exclusiva com o economista e CEO da Eu me banco, Fabio Louzada, sobre a taxa IPCA e como esta afeta nosso país. 

- Você acha que o salário mínimo está acompanhando apropriadamente o aumento do IPCA, levando em consideração o ajuste que tivemos em 2022; ou o poder de compra do brasileiro ainda está muito longe do ideal?

"O salário mínimo está bem abaixo do valor ideal, considerando os fatores inflação e poder de compra. Cada vez mais o brasileiro se vê apertado com o aumento dos preços, e o maior impacto é no salário. Acredito que os ajustes teriam que ser em maior magnitude."

- Quais são os fatores atuais que vêm influenciando o constante aumento do IPCA?

"Os fatores externos estão pesando muito, começando pelas tensões geopolíticas entre Rússia e Ucrânia e as sanções econômicas, que fazem com que grãos importantes deixem de ser importados, gerando escassez de produtos e, por consequência, aumento nos preços.

Outro fator é o lockdown na China, que faz com que peças importantes de produtos não cheguem nas multinacionais. Dessa forma, uma multinacional que precisa de algum produto chinês para fabricar algo tem impacto na fabricação desses produtos. Quanto menor for a oferta de produtos, maior será o preço.

Além disso, o petróleo segue subindo forte, acompanhando essa instabilidade global. Com isso, a gasolina e outros derivados de petróleo seguem subindo e impactando a economia. Logo as duas classes mais afetadas de produtos são: alimentos e bebidas; e transportes."

- Os próximos ajustes mensais na taxa do IPCA têm tendência a aumentar exponencialmente?

"Aumentar sim, mas não exponencialmente, pois já está muito alto. Acredito que logo teremos o relaxamento do lockdown na China, o que já dará algum alívio na economia. Além disso, as economias globais vêm subindo juros para conter essa inflação. Aqui no Brasil, já chegamos a 12,75% e deve continuar subindo.

Acredito que no final do ano o IPCA ficará novamente em dois dígitos, mas deve desacelerar um pouco. Vale lembrar que o IPCA acumulado de 12 meses está em 12,13%."

- Quais medidas podem ser ou serão tomadas para que a inflação volte a descer e o poder de compra do consumidor retorne a um nível ideal?

"O Banco Central já vem tomando medidas que são cabíveis a ele, como o aumento da taxa de juros. Além disso, o Brasil sofre com aumento dos custos, que tendem a acelerar em ano de eleição. O endividamento do Brasil é alto, com juros altos e boa parte vencendo no curto prazo, o que é péssimo no atual contexto.

Além disso, hoje o Brasil também sofre com o cenário externo e a instabilidade global. Quando o cenário externo estiver mais normalizado (pelo relaxamento do lockdown na China ou diminuição da tensão entre Rússia e Ucrânia, por exemplo), ajudará na contenção da inflação não só no Brasil, mas no mundo."

- Quando poderemos assumir que o Brasil chegou em um ponto crítico no cenário econômico? Existe a possibilidade de chegarmos neste ponto?

"O cenário é ruim, pois não estamos crescendo e a inflação está alta. Reformas são necessárias para que o Brasil consiga diminuir o tamanho da sua dívida. O ponto crítico acontecerá se abrirmos mão do teto de gastos. Isso sim poderá acarretar severas consequência ao Brasil, podendo chegar até a calote da dívida, como aconteceu na Argentina. 

Por enquanto não estamos prevendo esse cenário, mas algumas decisões erradas podem fazer com que o Brasil chegue nesse ponto."

- Como o aumento da taxa IPCA influencia o cenário pré e pós-eleitoral?

"A inflação é considerada o “imposto dos pobres”, isso porque a inflação afeta muito mais o pobre do que o rico, falando em termos percentuais. 

Um exemplo, se o produto X sobe de R$ 50 para R$ 100, para alguém que ganha R$ 1.000,00, o aumento comprometeu 10% da sua renda (R$ 100 de R$ 1.000,00). Agora, para alguém que ganha R$ 10.000,00, o aumento comprometeu apenas 1% da sua renda (R$ 100 de R$ 10.000,00). 

Dito isso, a inflação tira a popularidade do presidente, que tem que fazer de tudo para reverter esse cenário de alta de preços. Ao mesmo tempo, ele não consegue diminuir os custos. 

Isso pode ser usado pelos candidatos, seja para apoiar ou criticar o governo. O pós-eleitoral também não será um cenário fácil, pois quem ganhar as eleições, terá que lidar com menor crescimento para poder conter a inflação. E se o país não cresce, não gera emprego."

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Fabio Louzada fundador e CEO da EMB (Reprodução/Instagram)


Fabio Louzada é economista, graduado em gestão financeira pela FGV, e com experiência de mais de uma década no mercado financeiro. É o fundador e CEO da Eu me Banco, uma escola voltada para quem quer se tornar um especialista em investimentos.